O que é endometriose? Quais os sintomas? É grave? Tem cura? Como diagnosticar? Quais as opções de tratamento? Consigo engravidar?
Se você recebeu o resultado do seu ultrassom e apareceu a palavra “endometriose” no laudo, ou se está desconfiando disso por sentir cólicas muito fortes, respire fundo!!
Nesse artigo eu te explico tudinho com linguagem simples, mas com precisão de especialista!
Direto ao ponto: 7 perguntas e respostas sobre endometriose
1. O que é endometriose?
É quando o tecido que reveste a cavidade uterina - endométrio - cresce fora do útero, em locais onde não deveria, como nos ovários, tubas, intestino, bexiga etc. Esse tecido é estimulado pelos hormônios do ciclo menstrual, causando inflamação, dor e até infertilidade.
2. Quais os principais sintomas?
- Cólicas muito fortes (dismenorreia);
- Dor durante a relação sexual (dispareunia);
- Dor para evacuar ou urinar, especialmente no período menstrual;
- Sangramento menstrual intenso ou irregular;
- Dor pélvica crônica fora do período menstrual;
- Dificuldade para engravidar;
- Fadiga, inchaço abdominal, diarreia ou constipação.
**Os sintomas variam de acordo com a localização do tecido fora do útero.
3. Endometriose é grave?
Apesar de ser uma doença benigna (não é câncer), pode ser grave sim, por comprometer a qualidade de vida, a fertilidade e causar dores incapacitantes se não for tratada. A boa notícia é que há tratamento eficaz para controle dos sintomas.
4. Tem cura?
Ainda não existe uma cura definitiva, mas sim: existe tratamento clínico e cirúrgico que ajuda a controlar os sintomas e prevenir a progressão da doença. Com acompanhamento adequado, muitas mulheres vivem bem e sem dor.
5. Quais exames diagnosticam a endometriose?
O primeiro exame pedido é o ultrassom transvaginal com preparo intestinal, que pode identificar focos de endometriose profunda, especialmente no intestino e nos ligamentos pélvicos. Quando necessário, a investigação pode ser complementada com a ressonância magnética da pelve para mapeamento detalhado doença. O exame padrão-ouro é a videolaparoscopia com biópsia, pois permite visualizar diretamente os focos de endometriose.
6. Como é o tratamento da endometriose?
O tratamento da endometriose geralmente começa com medicamentos hormonais, como anticoncepcionais ou análogos de GnRH, além de anti-inflamatórios para aliviar a dor. Em casos especiais ou refratários, pode ser indicada a cirurgia para remover os focos fora do útero da doença.
7. Quem tem endometriose pode engravidar?
Sim. Apesar de até 50% das mulheres com endometriose terem alguma dificuldade para engravidar, é possível engravidar naturalmente. Em outros casos, podem ser indicadas técnicas de reprodução assistida, como indução da ovulação, inseminação ou FIV.
Aprofundando
O que é endometriose?
Endometriose = endométrio + ose. Endométrio é o nome do tecido que reveste a camada interna do útero (a camada que descama todo mês e forma a menstruação) e “ose” indica uma condição ou doença.
A endometriose é uma doença inflamatória crônica que piora com a ação do estrogênio, um hormônio feminino natural que atua no ciclo menstrual. Por isso, ela é chamada de estrogênio-dependente.
Ela acontece quando um tecido parecido com o revestimento do útero (endométrio) cresce fora do útero, em lugares onde não deveria estar, como os ovários, trompas, intestino, bexiga e o peritônio (uma membrana que reveste os órgãos da pelve).
Mesmo estando fora do útero, esse tecido responde aos hormônios do ciclo menstrual normalmente: ele incha, sangra e cicatriza todos os meses. Só que, por estar no lugar errado, esse processo gera dor, inflamação, aderências (quando os órgãos “grudam” entre si) e pode levar à infertilidade (dificuldade para engravidar).
Por que a endometriose causa cada um desses sintomas?
Tudo o que a endometriose provoca no seu corpo tem explicação médica, baseada em evidência. Abaixo, vamos falar sobre 7 principais sintomas de endometriose e por que cada sintoma acontece:
Você já sentiu aquela cólica tão forte que parece que vai desmaiar?
Ou uma dor durante o sexo que ninguém conseguia explicar?
Talvez já tenha ouvido um “isso é normal” — mas não é.
1. Dores menstruais/cólicas muito fortes (dismenorreia)
Durante o ciclo menstrual, os focos de endometriose fora do útero sangram e inflamam. Esse sangue, sem ter por onde sair, irrita o tecido ao redor e os nervos da pelve, gerando cólicas menstruais extremamente dolorosas, muitas vezes incapacitantes.
2. Dores durante a relação sexual (dispareunia)
Quando a endometriose afeta o fundo da vagina, ligamentos uterossacros ou o septo reto-vaginal, o contato durante a penetração pode atingir essas regiões inflamadas ou com aderências — causando dor profunda e desconforto, especialmente em certas posições.
3. Dor para evacuar ou urinar (especialmente no período menstrual)
Focos de endometriose no intestino, bexiga ou ureteres respondem aos hormônios menstruais e incham durante o ciclo, causando dor ao evacuar (disquesia) e ao urinar (disúria). Esses sintomas costumam piorar no período menstrual.
4. Sangramento menstrual intenso ou irregular
A endometriose pode alterar a resposta do endométrio normal e provocar desequilíbrios hormonais, levando a menstruações prolongadas, com fluxo mais intenso e sangramentos fora do período esperado.
5. Dor pélvica crônica fora do período menstrual
Mesmo fora da menstruação, o tecido ectópico libera substâncias inflamatórias (citocinas, prostaglandinas) que estimulam terminações nervosas. Resultado: dor constante na pelve, que pode piorar ao se movimentar ou mesmo em repouso.
6. Dificuldade para engravidar (infertilidade)
A inflamação causada pela endometriose altera o ambiente da pelve, prejudica a qualidade dos óvulos, interfere no funcionamento das trompas e do útero e dificulta a implantação do embrião. Isso explica por que muitas mulheres com endometriose têm dificuldade para engravidar.
7. Fadiga, inchaço abdominal, diarreia ou constipação
A presença de endometriose intestinal ou peritoneal pode causar sintomas parecidos com síndrome do intestino irritável, como alteração no ritmo intestinal, gases, distensão abdominal e cansaço constante — relacionados à inflamação sistêmica.
Esses sintomas não são exagero, e não são “normais” para um ciclo menstrual. Eles têm base científica e merecem atenção, investigação e tratamento.
O que causa endometriose?
A resposta pode estar no jeito como o corpo lida com um fenômeno chamado menstruação retrógrada — e sim, isso pode estar acontecendo com você sem que ninguém nunca tenha te explicado.
Começando do começo…
A teoria mais aceita atualmente sobre a origem da endometriose é a menstruação retrógrada (proposta por Sampson em 1927). Funciona assim: durante a menstruação, em vez de todo o sangue sair normalmente pela vagina, parte dele pode seguir o caminho inverso, voltando pelas trompas uterinas.
E aqui está o que pouca gente sabe:
As trompas não são totalmente fechadas.
A ponta delas, que fica próxima ao ovário, é aberta para dentro da cavidade abdominal.
Ou seja: se o sangue voltar por ali, ele pode entrar na pelve (parte mais baixa da cavidade abdominal) e levar junto células do endométrio (o tecido que forma a menstruação). Essas células se implantam em lugares como ovários, intestino, bexiga ou peritônio (membrana que envolve os órgãos pélvicos) — e é aí que o problema começa!
Mesmo fora do útero, essas células continuam obedecendo aos hormônios do ciclo menstrual: crescem, inflamam, sangram e cicatrizam todos os meses. Mas como estão no lugar errado, esse comportamento provoca um verdadeiro “efeito dominó” de problemas:
- Inflamação crônica
- Dor pélvica crônica
- Aderências
- E em muitos casos, dificuldade para engravidar
E aqui vai um dado CHOCANTE:
A menstruação retrógrada acontece em até 90% das mulheres!
Mas, a doença afeta entre 5% e 10% da população feminina em idade reprodutiva.
Então… Por que nem toda mulher tem endometriose, se a menstruação retrógrada é tão comum?
Eu explico! Normalmente o sistema imunológico destroi boa parte da células retrógradas, mas, o que acontece em quem tem endometriose é que o corpo dessas mulheres não consegue destruir as células que caíram na pelve. Isso acontece por causa de:
- Disfunção imunológica (sistema de defesa não reconhece o tecido fora do útero)
- Predisposição genética
- Excesso de estrogênio (hormônio que estimula o crescimento dessas células)
- E um ambiente de inflamação pélvica persistente
Resultado?
Essas células se instalam, sobrevivem e continuam causando dor, desconforto e inflamação mês após mês.
É como se a menstruação acontecesse também por dentro da barriga!
Referências Bibliográficas
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